segunda-feira, 15 de março de 2010

Lição II - Tudo na vida exige preparo

Pois é, eu fui a uma rave.
Primeira vez? Não, mas essa foi diferente.
Por culpa do sono incontrolável, justificado pelas 48 horas anteriores sem dormir, já cheguei ao evento sem forças para chacoalhar o meu corpinho. Sendo assim, passei de participante da festa à observadora de tudo e todos. “Coisa mais chata!”, podem pensar. Mas afirmo que foi uma experiência nova e interessante. Além do mais, foi a única alternativa de diversão que me sobrou, dado que eu mal conseguia manter meus olhos abertos. Eu poderia passar horas descrevendo as cenas e personagens que vi, mas como sou discreta (sim, às vezes sou) vou tentar falar mais a meu respeito.
Eu, ainda sob efeito do cansaço das noites de sexta e sábado, olhava todo aquele alvoroço e só pensava: “quanto tempo eu vou durar aqui?”. O fato é que me senti pairando sobre aquele lugar e não fazendo parte dele. Ao redor, garotinhas esquálidas aparentavam seus doze anos. Nas bochechas, uma quantidade tão expressiva de blush, que chuva nenhuma apagaria aquelas rodelas vermelhas. Eu me esforçava para manter o equilíbrio, mas os olhos fechavam e a mais sutil tentativa de movimento me fazia pender para frente. Olhando as fotos, podem pensar que eu estava viva, mas eu garanto: não era eu, era um zumbi.
Cada esbarrão eufórico dos coleguinhas de rave me transportava para outra dimensão. Via minhas amigas se contorcendo naquela dança engraçada e, mentalmente, eu também dançava horrores. Elas não podiam ver, mas eu dançava muito.
Já comentei sobre a lama? Cada pulinho do vizinho fazia respingar em mim alguns litros do mais geladinho e cremoso barro. Quando o sol nasceu, senti que meus amiguinhos não se lembraram de passar desodorante e foi nessa hora que todo o meu espírito de alegria coletiva começou a se esvair.
Comecei a tremer dos pés à cabeça e concluí que minha festa duraria menos tempo que a dos outros. Talvez comer alguma coisa pudesse ajudar. Eu era a carona da vez e não queria deixar ninguém na mão. Xandoca, amiga guerreira e leal, foi enfrentar fila por mim que, quase um poste, fiquei encostada no balcão socializando com o vendedor. Como não poderia deixar de ser, não havia nada naquele lugar que uma vegetariana comeria. Especialista que sou em furadas gastronômicas, escolhi o salgadinho de queijo e presunto, único que poderia passar pelo meu procedimento padrão de retirada da carne. Para vocês que nunca foram a uma festinha infantil comigo, segue a receita:
1 - desmantele o salgado em duas partes iguais;
2 – vá comendo a massa, separadamente, e reserve o recheio;
3 – terminada a massa, você ficará com o presunto e o queijo, enrolados, nas mãos;
4 – convide sua amiga solidária e esfomeada para se aproximar, pois ela será útil na próxima etapa;
5 – ofereça à amiga o presunto que restou. Não há dúvidas, ela vai aceitar.
6 – Simultaneamente, vá retirando a quantidade possível de queijo que estará fortemente grudado ao cadáver. Não desista, pois você precisa de proteína.
7 – Pronto! Você está alimentada!

Depois de todo esse trabalho, é claro, minha hora de ir para a caminha não tardou.
Qual é a lição, afinal de contas? Precisará ficar acordada durante horas seguidas em determinado dia? Poupe-se nos dois dias anteriores. Ou, em resumo: não sabe brincar, não desça para o play.

Um comentário:

  1. Kkkkkkkk. Amiga! Adorei! Principalmente se tratando que a amiga esfomeada que sempre come as partes repudiadas da vegetariana, sou eu! Eu acho que vc aguentou até tempo demais ali, pelo sono e cansaço que voce estava...

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