segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.

Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Aprendendo a calcular

Ok, Cláudia, vamos lá. Quantos casados, realmente felizes com esta condição, você conhece? Sem enfeitar, por favor.

- Fala desse jeito, mas aposto que se casa logo (risos).

Não desconverse.

- Tudo bem. Uns três casais.

Pois então. Pegue todo o universo de casais que você conhece e faça as contas. Quanto daria isso? Nem um por cento, garanto.

- É porque as pessoas não dão mais crédito ao amor e isto piora a cada dia.

Se eu dissesse a você o seguinte: amiga, tem um negócio que eu gostaria muito de abrir e queria que você fosse minha sócia. Só existem alguns problemas....ele só dá certo em um por cento dos casos, o investimento é altíssimo e a única maneira de descobrir se vai dar certo é tentar. Aceitaria?

Game over.